Uma exposição no museu da língua portuguesa, em São Paulo, vai marcar o centenário da morte de Machado de Assis, um dos principais escritores brasileiros.
Olhos sem ressaca lêem Machado em voz alta em cinco telas. Setecentos quilos de papel em branco lembram a auto-gozação do autor, que diz desconfiar de um capítulo inútil.
O Machado de Assis que renasce numa exposição é tão carregado de ironias e irreverência como a obra do escritor que morreu há 100 anos.
Não é desafio pequeno ter de transformar em exposição uma obra vasta e importante como a de Machado de Assis, criada para morar nas páginas dos livros.
Os organizadores da exposição enfrentaram essa charada chamando cada ambiente de capítulo e transformando o visitante em leitor, que é convidado a caminhar pela obra de machado em alguns casos, literalmente.
Em outros, ele é estimulado a vestir o chapéu do autor e deixar que o gênio, a obra e a vida de Machado entre na sua cabeça.
Machado nasceu mulato, pobre, neto de escravos. Terminou a vida escritor famoso, fundador da Academia Brasileira de Letras e oficialmente branco, como atesta a certidão de óbito exposta. Uma trajetória que não o impediu de falar da escravidão em sua literatura.
Clássico, escritor estudado mundo afora, o Machado de Assis da mostra aparece despido de cerimônia. Se a nota de mil cruzados mostra como o autor já mereceu o respeito dos patrícios, os documentos do seu inventário registram que Machado de Assis sempre morou de aluguel e que morreu deixando dívidas na venda do bairro.
“Não é um autor obrigatório porque clássico. Ele é importante pelo prazer de leitura que ele tem e a malandragem das palavras que ele tinha”, afirmou Vadin Nikitin, curador da exposição.
A intenção é essa: tirar o famoso escritor da prateleira empoeirada e trazê-lo para a vida.